Nós Também temos história e tudo é uma questão de evolução, ou não...
Para chegarmos aos
dias atuais com grandes redes hoteleiras no Brasil e no Mundo, tivemos que
passar pelas idades antigas, como tudo tivemos um começo. A descrição abaixo demonstra qual foi o caminho de
nascimento do que é hoje chamado “a profissão do futuro”.
Jogos Olímpicos
Marco inicial da
hospedagem, para a maioria dos autores, os Jogos Olímpicos foram de imensurável
importância ao desenvolvimento do Turismo Mundial. Na Grécia Antigas,
visitantes de várias localidades iam à Olímpia assistir aos jogos Olímpicos,
competições essas que duravam dias. A dimensão dessa competição é descrita com
exatidão pelo Almanaque Abril (1997):
O evento era tão
importante que interrompia até mesmo as guerras em andamento e deslocava
milhares de pessoas. Os nomes dos vencedores das competições só começam, no
entanto, a ser registrados a partir de 776 A.C. As Olimpíadas perdem prestígio
com o domínio romano da Grécia.
Para esses eventos,
foram construídos o estádio e o pódio, onde se homenageavam os vencedores e
ficava a chama olímpica. Mais tarde foram acrescentados os balneários e uma
hospedaria, com cerca de 10 mil metros quadrados, com o objetivo de abrigar os
visitantes. Essa hospedaria teria sido o primeiro “hotel” que se tem notícia.
As estradas romanas
Para que haja uma
hospedagem é necessário que haja primeiro um deslocamento. Baseando-se nesse conceito,
muitos autores identificam os grandes deslocamentos do povo Romano como outro
marco de extrema importância para o desenvolvimento dos meios de hospedagem.
Povo esse sempre adiante de seu tempo, os Romanos, no início da expansão de seu
Império, iniciaram a construção de estradas entre as cidades conquistadas.
Essas eram basicamente utilizadas como meio de comunicação, onde um funcionário
do correio romano sempre levava consigo correspondências de uma cidade a outra
através destas vias. Essas não eram muito utilizadas para transporte de
mercadorias por suas precárias construções, o que transformava o transporte
fluvial e marítimo Essas vias com o passar dos anos foram se expandindo,
fazendo a ligação mais eficientes.
Entre cidades cada
vez mais distantes. Isso gerou a necessidade de hospedagem desses funcionários
que levavam as correspondências. Essa hospedagem era, a princípio, realizada em
lugares particulares ou abandonados, como descreve LA TORRE (1982, p. 9):
No século IV A.C.
Roma governava a Itália Central, o que trouxe a necessidade de construir
caminhos para que os homens transitassem, e para tanto o imperador romano Apio
Claudio construiu nesse século a Via Appia, que se constituiu no primeiro
caminho romano.
Posteriormente, a
rede de caminhos estendeu-se até o sul da Itália, de onde advém a frase “Todos
os caminhos levam a Roma”.
Esses deslocamentos humanos de seu ambiente de vida a outras terras implicavam
na necessidade de alojar-se em algum lugar, e os Romanos geralmente se alojavam
em casas particulares, em templos pagãos das cidades ou em acampamentos fora
desta.
As redes foram com o tempo se alastrando por toda a península Itálica, ao final
do século I a.C. já existiam 19 estradas que interligavam toda a península.
As estradas romanas
foram, sem dúvida, o princípio da hospedagem com fins lucrativos ou de
benefícios. Diferentemente das hospedagens das Olimpíadas, as pousadas romanas
faziam parte do sistema econômico das cidades, gerando um comércio entre os
viajantes e os moradores e até mesmo a troca de mercadorias entre cidades. Essa
transformação ocorreu, principalmente, após o grande “boom” de meios de
hospedagem nessas estradas. Como MASO (1974, p. 112) descreve:
Conforme GONÇALVES;
CAMPOS (1999), a organização era tanta nas estradas romanas que para se
transitar por elas as pessoas deveriam possuir um documento, muito parecido com
o passaporte, como já citado também por MASO (1974, p. 112):
Como naquela época
os meios de transportes não percorriam mais do que 60 quilômetros diários, as
viagens quase sempre duravam alguns dias. Disso resultou à criação das
hospedarias que, em Roma, obedeciam a regras muito rígidas; por exemplo, um
hoteleiro não poderia receber um hóspede que não tivesse uma carta assinada por
uma autoridade, estivesse ele viajando a negócios ou a serviço do imperador. A
famosa Via Appia, por exemplo,
era um local repleto de pequenas pousadas, ao tempo do Império Romano e
naqueles estabelecimentos ocorria toda a sorte de orgias, crimes e desordens.
As Olimpíadas podem
ter marcado o início da Hotelaria, (naquela época apenas hospedaria como
veremos a seguir) mas com certeza foi a expansão do Império Romano que criou o
hábito nas pessoas de se hospedarem em locais que não os de moradia. Foi também
essa expansão do Império que alavancou a construção de várias pousadas ao longo
das vias. Mas essa expansão sofreu, a princípio, resistência dos moradores
locais, uma vez que na maior parte das vezes, os viajantes que passavam pelas
cidades eram “invasores” romanos que estavam levando ordens do Imperador ou
estavam recolhendo informações para levar a ele. Como descreve GONÇALVES; CAMPO
(1999, p. 37) descreve:
Isso levava as
autoridades a colocarem os donos de pousadas em sua folha de pagamento, para
que eles relatassem tudo que ouvissem de seus hóspedes. A lei obrigava a manter
vigília à noite, visando a segurança dos
hóspedes, de quem era obrigatório anotar os nomes, a procedência e a nacionalidade. Esse panorama continuou mais ou
menos inalterado até o final da Idade Antiga.
Com a queda do
Império Romano, as estradas vieram a ser menos usadas, em razão da falta de
segurança. Esse fato diminuiu o número de hóspedes, prejudicando seriamente as
pousadas.
Essa resistência
existiu até o advento do Cristianismo, religião essa que prega o “amor ao
próximo”. Criou-se assim uma certa segurança nos moradores quanto aos viajantes
e também gerou nos próprios viajantes segurança quanto ao lugar onde se
hospedavam, pois esses agora estavam protegidos por Deus.
O Cristianismo
Por volta de 324 D.C
o imperador Constantino, após várias guerras civis, unifica mais uma vez o
Império Romano, que estava dividido entre dois governantes: Galério, Imperador
do Oriente e Constâncio, Imperador do Ocidente.
Foi a conversão de Constantino ao cristianismo que tornou essa a religião da
unificação do Império como coloca CORNELL (1982, p. 190):
Tanto na época de
Constantino como ao longo de todo o século IV a corte imperial deu impulso
decisivo ao processo de cristianização do Império, a conversão de Constantino,
embora fosse em si mesma um acontecimento inesperado, não exerceu a sua
influência no vazio, mas sim por meio do que viria a ser uma das mais
importantes instituições sociais de finais do Império.
Após uma
divergência com o Senado e com a sociedade Romana, Constantino coloca a cidade
de Constantinopla, cidade localizava-se no oriente, como capital do Império
Romano. Levando a religião cristã ao Oriente.
Os preceitos de amor ao próximo do Cristianismo é que influenciaram as visões
das pessoas quanto aos peregrinos, como expõem LA TORRE (1982, p. 10):
O Cristianismo
trouxe consigo os novos preceitos de amor ao próximo, fazendo com que os
moradores de muitos lugares do mundo oferecessem melhor tratamento aos
peregrinos, tornando-os hóspedes especiais ao dar-lhes pousada. Devido à
sociedade cristã haver nascido onde convergiam dois mundos, o oriental e ocidental,
isso proporcionou sua rápida expansão.
Para a “Hotelaria”, esse episódio da história é
de extrema importância, pois gerou uma proximidade entre hóspedes e donos de
hospedarias. A qualidade no atendimento começou a ser considerada de extrema
importância. Diferentemente da qualidade que empregamos hoje no mercado
hoteleiro, onde a qualidade no atendimento é tratada como um aspecto mercadológico,
nesse período esse diferencial estava mais ligado à religião e suas pregações.
Mesmo com essa diferença conceitual, a qualidade pode-se dizer passou a ser
estudada e empregada. Como BENI (1998, p. 187) coloca, esse diferencial é de
extrema importância no mercado de hoje:
O produto hoteleiro é estático. O consumidor deve ir até ele. Já nas empresas
industriais ou comerciais fazem chegar o produto até o cliente (…) A empresa hoteleira, quando comparada a
outros tipos de empresa, é menos propensa à automação, pois o tratamento pessoal e o calor humano fazem parte essencial da
prestação dos serviços hoteleiros.
As Cruzadas
Outros fatos
históricos que influenciaram muito no desenvolvimento da Hotelaria e da
hospedagem foram as cruzadas, guerras essas que ocorreram entre territórios
dominados pela Igreja Católica e territórios dominados pela religião Islâmica.
Depois de séculos de guerras, as religiões começaram a recuperar os lugares
santos com objetivo de proteção de peregrinos. Esses locais eram chamados de
hospitais, como escreve LA TORRE (1982, p.10): “Esse fato propiciou a fundação
de hospitais (cuja raiz latina é hospes,
que significa hóspede), que se multiplicaram posteriormente entre os povos
ocidentais da Europa.” .
Inicialmente esses Hospitais, que abrigavam velhos, enfermeiros e peregrinos,
não possuíam fins lucrativos. Mas com o passar dos anos os hospitais (que eram, muitas vezes mosteiros)
passaram a cobrar para estadia dessas pessoas. Muitos desses mosteiros até os
dias de hoje são meios de hospedagem muito utilizados e visitados,
principalmente na Europa Ocidental.
Primeiros
estabelecimentos de hospedagem
Como visto nos
tópicos anteriores, os meios de hospedagem possuem sua origem nos balneários e
na hospedaria de atletas durante os jogos Olímpicos e seu desenvolvimento
durante a expansão do Império Romano e do Cristianismo. Esses meios de
hospedagem até agora descritos, não possuíam como função principal a hospedagem,
por isso as hospedarias. Muitos deles eram casas particulares onde os viajantes
se acomodavam em pequenos quartos, estábulos, ou alguns meios eram somente
utilizados esporadicamente, em datas comemorativas ou durante guerras. Então a
funcionalidade principal destes estabelecimentos seria a moradia e não a hospedagem. O mesmo acontecia com os
mosteiros aonde as funções religiosas vinham em primeiro âmbito.
Os primeiros estabelecimentos de hospedagem com o propósito exclusivamente
comercial surgiram no final da Idade Média na Europa. Eram as tabernas e as
pousadas. Como coloca LA TORRE (1982, p. 12):
As pousadas eram
públicas com fins lucrativos, localizadas em povoados onde se ofereciam
alimentos, bebidas e albergues a viajantes, cavaleiros e carruagens. As
tabernas tinham o mesmo objetivo das pousadas, mas geralmente estavam
localizadas nas estradas ou fora dos povoados, a uma distância que poderia ser
percorrida a cavalo durante o dia.
Nesses abrigos, os
hóspedes eram obrigados a cuidar da própria alimentação, da iluminação (velas,
lampiões, etc.) e das roupas de dormir. De acordo com GONÇALVES; CAMPOS (1999),
o desenvolvimento das estradas por toda Europa e o crescimento do comércio
entre os países, fez com que a hospedagem começasse a possuir parte
significativa da economia local:
No século XII, as viagens na Europa voltavam a se
tornar mais seguras, e rapidamente as hospedarias se estabeleceram ao longo das
estradas. Aos poucos, diversos países implantavam leis e normas para
regulamentar a atividade hoteleira,
especialmente a França e a Inglaterra.
A França, por exemplo, já dispunha de
leis reguladoras dos estabelecimentos e serviços hoteleiros no ano de 1254
(século XIII), enquanto na Inglaterra isso aconteceu em 1446 (século XV).
No ano de 1514 (século XVI), os hoteleiros de Londres foram reconhecidos
legalmente, passando de hostelers (hospedeiros) para innholders (hoteleiros).
O Desenvolvimento
da Hotelaria na Europa
Como já exposto, o
desenvolvimento da Hotelaria está intimamente ligado ao desenvolvimento dos
meios de transportes. Até o surgimento das ferrovias, em torno de 1840, por 200
anos os meios de hospedagem foram se desenvolvendo no que diz respeito à
quantidade, mas não a qualidade e tampouco a modernização.
As diligências de carruagens eram hóspedes garantidos para as pousadas e
hotéis. Tamanha era a importância destes, que os meios de hospedagem mais
preparados possuíam até cocheiras e estábulos para acomodar os cavalos que
puxavam essas carruagens.
Essas pousadas mais preparadas já trabalhavam como agenciadores de diligências,
uma vez que se tornavam ponto de saída e de chegada dos viajantes e ofereciam
passagens para essas viagens. Como diz GONÇALVES; CAMPOS (1999, p. 41):
Algumas das maiores
pousadas daquele período foram projetadas especificamente para se integrar com
esse meio de transporte (carruagem) (…) Dispunham de escritório de reservas e
salas de espera; além disso, muitas “estações” possibilitavam ao viajante fazer
reservas e comprar passagem de diligências, de várias rotas, a partir da
pousada – o Hotel Royal, na Inglaterra,
por exemplo, tinha um total de 23 linhas.
Mas o mundo se modernizava
rapidamente. No começo do século XIX surgem as primeiras ferrovias na Europa.
Como RONÁ (1999, p. 38) descreve:
Em 1802, Richard
Trevinthick construiu uma carruagem a vapor que não desenvolveu grande
velocidade devido as péssimas condições das estradas inglesas então, em 1825, George Stephenson inaugurou a
primeira ferrovia do mundo, ligando Darlington a Stockton. O primeiro
comboio (trem) era misto: transportava 60 toneladas de carga e 600 passageiros,
em 34 carros e vagões.
A chegada das
ferrovias foi um duro golpe para os meios de hospedagem existentes na época.
Como não se modernizaram e não se adaptaram as novas tecnologias, muitos
estabelecimentos fecharam as portas. Os meios de transportes estavam ficando
mais rápidos e eficientes e não mais criavam a necessidade de grandes períodos
de hospedagem ao longo dos caminhos.
Mais uma vez os meios de hospedagem se adaptaram aos novos meios de transporte.
Hotéis e pousadas foram construídos nas redondezas das estações de trens e não
mais ao longo das vias por onde passavam as diligências, pois nessas muitas
hospedarias já estavam estabelecidas e muitas outras estavam fechando suas
portas.
Não ignorando o fato de que as estradas de rodagem também demonstravam grande
desenvolvimento na época. Como descreve o autor RONÁ (1999, p. 33):
Em 1775, o
engenheiro da généralité de Limonges, Tresaguet, inventou um novo processo de
consolidação do piso das estradas, substituindo as várias camadas de pedra pela
utilização de cascalho com um leve arqueamento do piso. Quase que
concomitantemente, o engenheiro escocês John Loudon Mc Adam desenvolveu um
sistema bastante semelhante, que recebeu o nome de macadame, que barateou a
construção de rodovias na Grã-Bretanha.
Enquanto a
hotelaria que se desenvolvia nas beiras das estradas sofriam com o
desenvolvimento do transporte, nas regiões portuárias a quantidade de hotéis e
pousadas que surgiam era assustador. Isso porque nesse momento da história os
viajantes a negócios passavam mais tempo nas cidades desenvolvendo projetos ou fechando
negócios do que viajando, propriamente dito. Como expõe DUARTE (1996, p. 10):
Na medida em que
foram construídas estradas de rodagem e ferrovias que ligavam os grandes
centros às cidades portuárias, houve um grande aumento na quantidade de hotéis,
principalmente nessas cidades portuárias.
Para se ter uma ideia,
podemos citar como o marco inicial do desenvolvimento do Turismo Ferroviário a
venda antecipada, em 1841, de 570 passagens para o percurso entre Leicestere e
Loughborough, pela agência Cook de Londres.
O Turismo já se desenvolvia, assim como havia na Europa um desenvolvimento,
pelo menos nas questões quantitativas, dos meios de hospedagem.
Outro meio de transporte que influenciou muito no desenvolvimento do turismo, consequentemente
da Hotelaria, foi o barco a vapor. Como descrito por RONÁ (1999, p. 43):
Os primeiros barcos
construídos para o transporte de passageiros através do Atlântico foram ingleses e norte-americanos. Ficou para
trás o tempo em que esses passageiros eram mais considerados intrusos a bordo
do que como clientes pagantes. Em 1858,
foi lançado ao mar o Great Eastern, construído inteiramente de ferro e podendo
levar até 10.000 passageiros nos seus 210 metros de comprimento e 25 de
largura.
As distâncias
ficavam menores, o turismo agora não existia somente regionalmente, as
deslocações eram feitas agora a nível mundial, atravessando fronteiras, rios,
mares e Oceanos. A grande pioneira no
desenvolvimento da Hotelaria, a Europa (destacando a Inglaterra e a França),
começou a ficar estagnada, ultrapassada no que se diz respeito a qualidade e
modernização. Começou a perder sua supremacia para a nova potência que surgia
no final do século XIX e início do XX, os Estados Unidos.
Um dos últimos marcos da história da hotelaria no século XIX foi a construção,
em 1870, o primeiro estabelecimento hoteleiro em Paris, considerado o início da
hotelaria planejada. As inovações foram o banheiro privativo em cada quarto e a
uniformização dos empregados. O pioneiro foi o suíço César Ritz.
Essa estagnação Europeia e esse desenvolvimento norte-americano são citados por
DUARTE (1996, p. 10): “(…) sem dúvida, enquanto os hoteleiros ingleses se
acomodaram e permaneceram em estado de apatia, seus equivalentes
norte-americanos mostraram não ter inibições. Estes eram radicais, aventureiros
e expansionistas.”
Com estudos mercadológicos e de aperfeiçoamento no atendimento, os Estados
Unidos passaram a ser a nova referência da Hotelaria Mundial.
Aguardem semana que vem vamos para os EUA.